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Diógenes Fagner

Vote 40 ou 55 e negue a realidade, por Diógenes Fagner

Mais uma contribuição textual do amigo e leitor, Diógenes Fagner, confira:

O clima eleitoral está quente em Santa Cruz.

Parte significativa da sociedade está trabalhando com afinco para eleger seu candidato.

Cada bolha militante, nesta disputa, tem apresentado uma mistificação que lhe é peculiar.

O militante da bolha 55 acredita e defende que Péricles é ficha-limpa. O da bolha 40, por sua vez, acredita e defende que Ivanildinho é o melhor pra Santa Cruz.

Percebam, não quero dizer apenas que essas pessoas são hipócritas. Isso seria simplista. A maioria de nós, felizmente, sente culpa. E, além do mais, ser conscientemente hipócrita seria uma postura que requereria um tremendo esforço cotidiano.

Ao contrário, poderia se dizer, numa analogia, que um ator interpreta muito melhor quando esquece que está atuando.

Nesse sentido, o uso do conceito de recalque de Freud pode nos ajudar na interpretação destes fatos.

Segundo o pai da psicanálise, todo ser humano, pra viver em sociedade, precisa esconder no inconsciente seus desejos proibidos, pensamentos errados, lembranças de atos imorais e, assim, se esquecer de tudo mais que, se lembrado a todo instante, tornaria a vida insuportável.

Em resumo, de acordo com Freud, nós tendemos a recalcar e a esconder as nossas verdades inconvenientes das outras pessoas e, principalmente, de nós mesmos para nos sentirmos mais puros.

Para defender que Péricles é ficha-limpa, a bolha 55 precisa se esquecer de uma série de fatos inconvenientes, tais como, para exemplificar “Péricles foi secretário de Tomba, foi eleito prefeito para suceder Tomba, responde a processos no TRF5 junto com o primo, sua filha ocupou um cargo comissionado de 16 mil reais na ALRN, o próprio ocupou até o fim de 2018 um cargo na desastrosa administração de Robinson Faria.”

Do outro lado, a bolha 40 precisa ocultar muita coisa pra defender que Ivanildinho é o melhor pra Santa Cruz e não o melhor apenas para a família dele, dos vereadores e das centenas de cargos comissionados que o clientelismo tombista consegue sustentar .

O militante do 40 precisa quase se esquecer que está lutando pela sobrevivência do seu próprio cargo. Assim, ele consegue afirmar com maior poder de convencimento que se importa com o bem de Santa Cruz.

Todos nós preferimos, quase sempre, inventar um discurso bonito sobre nós mesmos a reconhecer que nos movemos muitas vezes por puro egoísmo.

Neste período eleitoral, o recalque coletivo das duas bolhas militantes tem assumido níveis inacreditáveis de negação da realidade.

E, no entanto, são estas duas forças que definirão o nosso destino político pelos próximos anos.