Algumas datas são marcantes para o povo de Santa Cruz. Anos como 1833 (Reconhecimento do Povoado), 1835 (Criação da Paróquia de Santa Rita), 1876 (Emancipação), 1963 (Energia de Paulo Afonso) e tantos outros anos de glória para uma cidade que já soube o que era ser o maior município em área territorial e em população, além dos tempos do algodão.
Mas a marca do ano de 1981 é envolvida de uma tristeza sem fim, quando conhecemos a marca da tragédia da enchente, com o arrombamento do Açude Santa Cruz. As águas que vieram pelo Rio Trairi, após grande volume pluviométrico, destruíram alguns reservatórios, como o de Campo Redondo, Mãe D’Água, que desaguou em Santa Cruz, provocando o rompimento da parede do mesmo.
O saldo foi terrível para uma população que em sua maioria dependia do serviço público e pequeno comércio. As famílias mais tradicionais e com mais recursos não sentiram tanto os efeitos, e existem relatos de privilégios e corrupção na divisão das ajudas enviadas pelos entes governamentais, entidades filantrópicas e donativos doados por todo Brasil.
A tragédia repercutiu pela imprensa nacional, trazendo para o Rio Grande do Norte o Ministro do Interior, Mário Andreazza, que junto ao Governador da época, Lavoisier Maia, implementaram a recuperação do município, com a construção de casas populares, bem como a reurbanização da cidade após a destruição provocada pelas águas.
A enchente provocou o primeiro marco de expansão da cidade, levando uma população para outras áreas do município, aumentando o perímetro urbano. A tragédia levou Santa Cruz para uma nova Era, que foi complementada com a chegada da Adutora Monsenhor Expedito, a criação dos Campi do UERN, IFRN e UFRN, além da implantação do Santuário de Santa Rita de Cássia.
Quem compara os sofridos anos 1980 sabe o que foi a caminhada de Santa Cruz, somada aos anos de luta de 1990, liderados por tantos homens guerreiros, a quem destacamos o radialista e poeta Hugo Tavares, nos movimentos pelas adutoras, liderados pelos padres católicos Monsenhor Expedito, no Potengi, e Monsenhor Raimundo, no Trairi.
Falando em padres, a Igreja Católica tem muita participação nessa recuperação da cidade após a enchente de 1981. Monsenhor Raimundo avisava à população através do sistema de som externo da Igreja Matriz sobre a enchente que se aproximava, abrigou pessoas, ajudou em todos os momentos daquele momento fatídico. Fez o que a Igreja de Cristo deve fazer sempre, atuar em favor dos mais humildes, socorrer os irmãos em Cristo Jesus.
Foi graças à Paróquia de Santa Rita de Cássia, que a Prefeitura de Santa Cruz, na administração de Hildebrando Teixeira conseguiu o terreno para construção das casas populares, doando uma faixa de terra onde abrigou os novos moradores para o Conjunto Cônego Monte, e construindo o marco de fé que é a Capela de Nossa Senhora das Graças. E como diz o hino da padroeira: “Senhora Mãe de Deus, Cheia de Graça. Aqui estão todos os filhos teus. […] Mas as águas nos trouxeram para cá. […] Foi a senhora a escolhida”.
Santa Cruz relembra em um sábado de feira livre a tristeza de anos passados, mas celebra a glória do seu desenvolvimento, e o desejo de mais justiça social. Que 81 não seja apenas tristeza, mas o marco da caminhada para o progresso, que ainda precisa chegar a todos.
Avante, povo de Santa Cruz!