Pular para o conteúdo

Greve geral: erra quem resume a paralisação de amanhã a um movimento petista

Por Daniel Menezes

A tentativa de enquadrar a greve geral marcada para amanhã (28) como uma movimentação petista carece de pé na realidade. Queria Michel Temer que suas reformas fossem reprovadas apenas pelo PT. Sua vida estaria bem mais fácil. A questão do protesto está no exíguo tempo de debate em relação a alterações tão significativas em todo o arcabouço institucional moldado pela nossa constituição de 1988, além do conturbado processo de impeachment que erigiu Temer e seu grupo ao poder.

Só para se ter ideia da velocidade da discussão – ou da falta dela -, o projeto de lei do PRONATEC foi aprovado, apesar de gozar de consenso no congresso, após quase dois anos de debate. Agora, mudanças constitucionais sobre o orçamento, sistema educacional, previdência e mundo do trabalho estão passando em alguns meses. É impossível alguém conseguir entender os termos das novas regulações em tão escasso período, o que gera margem para o verossímil medo da perda de direitos. Aliás, o que pode ocorrer, pois o governo fala grosso para cortar parte do Benefício de Prestação Continuada dos pobres, Aposentadoria Rural e benefícios previdenciários para portadores de alguma deficiência e afina a voz quando o alvo são as aposentadorias dos militares e da elite burocrática estatal.

Além da precária legitimidade gozada pelo vice-presidente Michel Temer, pela forma intricada com que o impeachment foi liderado por Eduardo Cunha e aprovado pelo congresso notoriamente para tentar jogar um boi para conseguir atravessar o rio da Lava Jato, o pemedebista faz a acusação desferida contra Dilma Rousseff (PT) em todo o ano de 2015 parecer mero detalhe. Dilma foi atacada por setores da oposição e parte de seus eleitores por ter praticado um “estelionato eleitoral”. Ou seja: ter pintado um cenário, prometido uma coisa e feito outra.

Ora, Michel Temer foi eleito como vice-presidente com as mesmas promessas de Dilma Rousseff. Suas reformas ganham dificuldade de legitimação em decorrência de que sua agenda carece de qualquer sintonia com aquilo que foi acordado com a maioria dos brasileiros em 2014. Mais: Michel Temer, ao demonstrar que não liga mais para reeleição e não quer voto de ninguém, se descolou completamente do eleitor. Daí sua inacreditável rejeição de um dígito. Ele exercita uma versão hiper turbinada de “estelionato eleitoral”, estranhamente agora não acusado por motivo semelhante pelos que atacaram Dilma por defender um programa e aplicar outro.

Tudo bem que o governo e seus muito pouco simpatizantes tentam chamar a paralisação de petista para enquadrá-la. Mas além de narrativa pouco factual, isto não irá estacionar os 90% da sociedade que se opõem à reforma da previdência, conforme pesquisas de opinião recém publicadas. Suspeito, inclusive, que o discurso acabará atribuindo uma força ao PT, dada a provável grande mobilização de amanhã, que ele, nem de longe, goza na presente correlação de forças da política nacional.

Depois do dia 28, Michel Temer, que já perdeu o PSB como parceiro para aprovar suas trocas constitucionais, carecerá de mais hipertrofia para endossar suas ações. Para passá-las pelo congresso, provavelmente abrirá ainda mais a distribuição de emendas e nomeação de indicados. Os cargos em comissão na esfera federal já foram ampliados em mais de quatro mil postos, para assim manter a base coesa. Ou seja, para tocar o seu projeto, Temer aumentará ainda mais o fosso entre seu governo e o eleitorado brasileiro. Trata-se de uma operação bastante desgastante para ele e seus aliados com a necessidade de renovação dos seus respectivos mandatos se avizinhando. O “anti-temer”, qualquer seja ele, embalará em 2018.

Marcações:

Deixe uma resposta