Por Diógenes da Cunha Lima
Jesus, um nordestino
Eu penso que Jesus
Devia de nascer em Belém
Na Paraíba, perto de Guarabira
E vizinho a Pirpirituba.
E se não bastasse a vizinhança
A indicar rima e caminho, Nova
Cruz.
Era filho caçula de Dona Maria
Uma mulher dona da beleza
E que germinava bondade nas
pessoas.
Era um menino moreno muito
esperto,
Embalado em rede de algodão
cru.
Tinha sandália com currulepo
entre os dedos
e cajus, em dezembro, a lhe
matar a sede.
O seu pastor fora um vaqueiro
nordestino
De gibão e perneira e
guarda-peito
Pra livrar as suas carnes da
jurema.
E vieram adorar o Deus-menino
Os Santos Reis, entrelaçados de
bom jeito
Um negro, um índio e um
branco português.
Seria fácil encontrar espinhos
para a fronte
Divina coroar, e um caminhão
Que ia por São José do Egito
Pra levar Jesus, o retirante,
Até São Paulo,
Um santo feito para as grandes
secas.
Meu Deus, meu Deus, por que
Nos abandonaste, exclamaria
Enquanto repartia com o povo
nu as suas vestes
Multiplicadas como pães ou
peixes.
Criança, era carpinteiro como seu
pai
Fazendo caixões azuis para os anjos do lugar.
Brincaria de castanha, um
castelo,
Como convém a sua alta
nobreza.
Academia, pulava num pé só
E proezas faria num cavalo de
pau.
O seu jumento era mais magro
certamente.
E nem serviria pra carne de
jabá
Era um menino desnutrido
como os outros
Da região a fazer o bem,
mudar.
Aqui as coisas só vão na base
do milagre
Ou da força parida da vontade.
Eu penso que Jesus
Devia de nascer em Belém
Na Paraíba.