Em um depoimento registrado pelo Blog do Wallace, no lançamento do livro “Chuá”, do saudoso Hugo Tavares, o ex-prefeito Hildebrando Teixeira relatou sobre sua experiência à frente da administração municipal de Santa Cruz, durante a enchente de 1981.
Esse registro histórico foi feito pelo nosso blog, e você acompanhar no canal do YouTube: www.youtube.com/blogdowallace.
O ex-prefeito de Santa Cruz, Hildebrando Teixeira, faleceu nesta quinta-feira (24), aos 77 anos. Sua administração foi marcada pela enchente de 1981, que destruiu metade da cidade, em 1º de abril daquele ano.
Hildebrando era natural de Santa Cruz, de 30 de outubro de 1943, filho de Francisco Tito Teixeira de Souza e Felisbela Otília de Souza. Foi estudante do Quintino Bocayuva e do Ginásio Comercial. O 2º grau concluiu na Escola Atheneu, em Natal, e se graduou em Engenharia Civil pela UFRN.
Na sua carreira profissional foi diretor da Superintendência de Transporte do RN (SUTERN); chefe de Gabinete do Governo de Monsenhor Walfredo Gurgel; ex-funcionário da Prefeitura de Natal e DER/RN.
Foi eleito em 1976, junto com Gilson Alves de Andrade. Tomaram posse em 31 de janeiro de 1977, e encerrando o mandato em 31 de janeiro de 1982.
Na história de Santa Cruz, Hildebrando sempre foi ligado aos fatos marcantes da enchente do Rio Trairi em 1º de abril de 1981, após o arrombamento do Açude Santa Cruz.
Algumas datas são marcantes para o povo de Santa Cruz. Anos como 1833 (Reconhecimento do Povoado), 1835 (Criação da Paróquia de Santa Rita), 1876 (Emancipação), 1963 (Energia de Paulo Afonso) e tantos outros anos de glória para uma cidade que já soube o que era ser o maior município em área territorial e em população, além dos tempos do algodão.
Mas a marca do ano de 1981 é envolvida de uma tristeza sem fim, quando conhecemos a marca da tragédia da enchente, com o arrombamento do Açude Santa Cruz. As águas que vieram pelo Rio Trairi, após grande volume pluviométrico, destruíram alguns reservatórios, como o de Campo Redondo, Mãe D’Água, que desaguou em Santa Cruz, provocando o rompimento da parede do mesmo.
O saldo foi terrível para uma população que em sua maioria dependia do serviço público e pequeno comércio. As famílias mais tradicionais e com mais recursos não sentiram tanto os efeitos, e existem relatos de privilégios e corrupção na divisão das ajudas enviadas pelos entes governamentais, entidades filantrópicas e donativos doados por todo Brasil.
A tragédia repercutiu pela imprensa nacional, trazendo para o Rio Grande do Norte o Ministro do Interior, Mário Andreazza, que junto ao Governador da época, Lavoisier Maia, implementaram a recuperação do município, com a construção de casas populares, bem como a reurbanização da cidade após a destruição provocada pelas águas.
A enchente provocou o primeiro marco de expansão da cidade, levando uma população para outras áreas do município, aumentando o perímetro urbano. A tragédia levou Santa Cruz para uma nova Era, que foi complementada com a chegada da Adutora Monsenhor Expedito, a criação dos Campi do UERN, IFRN e UFRN, além da implantação do Santuário de Santa Rita de Cássia.
Quem compara os sofridos anos 1980 sabe o que foi a caminhada de Santa Cruz, somada aos anos de luta de 1990, liderados por tantos homens guerreiros, a quem destacamos o radialista e poeta Hugo Tavares, nos movimentos pelas adutoras, liderados pelos padres católicos Monsenhor Expedito, no Potengi, e Monsenhor Raimundo, no Trairi.
Falando em padres, a Igreja Católica tem muita participação nessa recuperação da cidade após a enchente de 1981. Monsenhor Raimundo avisava à população através do sistema de som externo da Igreja Matriz sobre a enchente que se aproximava, abrigou pessoas, ajudou em todos os momentos daquele momento fatídico. Fez o que a Igreja de Cristo deve fazer sempre, atuar em favor dos mais humildes, socorrer os irmãos em Cristo Jesus.
Foi graças à Paróquia de Santa Rita de Cássia, que a Prefeitura de Santa Cruz, na administração de Hildebrando Teixeira conseguiu o terreno para construção das casas populares, doando uma faixa de terra onde abrigou os novos moradores para o Conjunto Cônego Monte, e construindo o marco de fé que é a Capela de Nossa Senhora das Graças. E como diz o hino da padroeira: “Senhora Mãe de Deus, Cheia de Graça. Aqui estão todos os filhos teus. […] Mas as águas nos trouxeram para cá. […] Foi a senhora a escolhida”.
Santa Cruz relembra em um sábado de feira livre a tristeza de anos passados, mas celebra a glória do seu desenvolvimento, e o desejo de mais justiça social. Que 81 não seja apenas tristeza, mas o marco da caminhada para o progresso, que ainda precisa chegar a todos.