As recorrentes interrupções no abastecimento de água no município de Nova Cruz foram tema da audiência pública realizada em conjunto pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte e Câmara Municipal na manhã desta sexta-feira (17). A iniciativa foi do deputado Luiz Eduardo (SDD) e o debate também contou com a participação do deputado Adjuto Dias (MDB), além de vereadores, da direção da Caern e de autoridades de diversas áreas das cidades de Nova Cruz e de Pedro Velho.
O debate lotou a sede da Câmara de Nova Cruz, com populares relatando os problemas constantes que vêm tendo com a irregularidade no abastecimento e o sistema colapsado. “Tivemos vários relatos e recebemos vídeos enviados pela população desde que a gente propôs fazer essa audiência. Algumas pessoas estão pagando o recibo mas a água não está chegando na sua casa ou propriedade, ou seja, estão pagando por um produto que não recebem. Viemos aqui para manter esse diálogo com a Caern, buscando, dentro dos prazos estimulados, uma solução razoável para todos”, afirmou Luiz Eduardo.
Luiz Eduardo, ao final, anunciou uma boa notícia para a população: afirmou que irá batalhar com Adjuto Dias, em Brasília, junto à bancada federal no Senado e Câmara para conseguir ao menos parte dos recursos a fim de serem construídos os 18 quilômetros de tubulação de ferro que, segundo os técnicos, irá por fim ao rodízio. “Iremos atrás desses recursos, vou bater na porta dos gabinetes e ao lado de Adjuto vamos sensibilizar a Caern para entrar com a contrapartida financeira e resolvermos dentro de 6 meses”, disse.
O deputado Adjuto Dias disse que vem debatendo o mesmo problema em outros municípios através de audiências públicas do Poder Legislativo. “Não é somente aqui em Nova Cruz, estive em Ipanguaçu e o Canal do Pataxó, que abastece uma importante comunidade rural precisa de reparos que não são feitos. Estamos aqui exatamente para cobrar”, disse.
O antigo sistema adutor de Nova Cruz, com mais de 40 anos, já não atende às novas demandas da população. Foi o que explicou o diretor presidente da Caern, Roberto Sérgio Linhares. O gestor explicou que para o órgão fazer uma reparação completa da tubulação, será necessário um investimento de R$ 66 milhões, um custo alto para ser feito com “o dinheiro da população”, através da cobrança da tarifa. Ele explicou que é necessário um forte investimento. “Não é falta de recursos humanos ou de recursos, mas é a estrutura da adutora, por isso que a Caern aguarda soluções de investimentos que não seja da tarifa simplesmente”, esclareceu.
Aracelli Rratis, que substituiu na audiência a diretora de operação e manutenção da Caern, informou que a Adutora do Agreste, cujos estudos foram autorizados pelo governo federal, será uma das principais obras hídricas do Rio Grande do Norte e irá beneficiar Nova Cruz.
De acordo com o governo federal, treze cidades serão beneficiadas diretamente, sendo 10 na região do Agreste (Boa Saúde, Lagoa D’Anta, Monte das Gameleiras, Nova Cruz, Passa e Fica, Santa Cruz, Santo Antônio, São José do Campestre, Serra de São Bento e Serrinha) e três no Litoral Sul (Canguaretama, Serra de São Bento e Pedro Velho). Além disso, outros 25 municípios também serão beneficiados com maior oferta hídrica por conta da redistribuição da água dos Sistemas Adutores Monsenhor Expedito e Espírito Santo.
O gerente-geral da Caern na região Agreste-Trairi, Francisco de Assis, explicou que a adutora já perdeu o prazo de validade, por ter cerca de 40 anos. E que o município passa por rodízio de abastecimento devido ao crescimento populacional e à insuficiência da capacidade da adutora, que vem passando por reparos constantes. No último levantamento, por exemplo, foram identificados de 35 a 40 vazamentos por mês, que exigem necessidade de paradas no abastecimento.
Na sua explanação, ele exibiu fotos dos trechos dos tubos recentemente substituídos nas áreas danificadas. Foram investidos pela Caern mais de R$ 5 milhões nos últimos anos. Somente em 2022, segundo o gerente, foram mais de R$ 2,7 milhões, com material e contratação de mão de obra. “Obra traz um transtorno temporário, mas Nova Cruz vive uma situação séria e a gente vai atingir um objetivo maior”, disse. Ele previu que dentro de dois anos, à medida em que o sistema for sendo melhorado, haverá um equilíbrio entre oferta e demanda.
A vereadora Marione Moreira destacou que o problema é sério tanto na zona urbana, quanto na zona rural de Nova Cruz e que na cidade afeta todos os bairros. “Sabemos que a adutora vai demorar, precisamos saber o que podemos fazer agora. Nós vereadores somos quem ouvimos as queixas diárias e precisa de vontade política para resolver essa questão. Esse problema não pode adormecer depois da audiência, vamos continuar cobrando em busca de alternativas”, disse.
Representando o comércio e o empresariado local, Germano Targino sugeriu uma adutora de engate rápido, a exemplo do que a Caern fez no Seridó. “O dinheiro gasto para fazer ´remendo` daria para realizar uma obra que amenizaria nosso problema. Se eu estava aflito antes, depois dessa audiência estou muito mais porque os investimentos anunciados não serão suficientes para reparar toda a rede e os problemas diários que acontecem aqui”, criticou.
Para a vereadora Gabriela Melo, a população vive aflita com as constantes interrupções no abastecimento. Ela relatou que em 2019 já foi realizada outra audiência com o mesmo tema e sugeriu que o rodízio fosse encurtado em dias. “Até ser resolvido não podemos ficar nesse caos que está”.O vereador Carlos Cesar ratificou que a situação é recorrente e estarrecedora. “É falta de boa vontade do governo”. disse.
Conhecido como Manga Rosa, o vereador Antônio Costa Moreira lamentou o adiamento de uma solução. “O povo de Nova Cruz quer água, não quer mais esse problema sendo adiado”, disse. Seu colega na Câmara, Mateus Catolé defendeu que o governo estadual priorize Nova Cruz.