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Rio Guaju

MPF cobra consulta a comunidades tradicionais antes do início das obras da Adutora do Agreste Potiguar

O Ministério Público Federal (MPF) cobrou a realização de consulta prévia, livre e informada (CPLI) às comunidades indígenas e a outros povos tradicionais antes do início das obras da Adutora do Agreste Potiguar. O projeto de infraestrutura hídrica pretende levar água a 38 cidades do Agreste e Litoral Leste do Rio Grande do Norte, com captação a partir do Rio Guaju. O MPF recomendou que o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do estado (Idema/RN) e a Agência Nacional de Águas (ANA) sustem o efeito das autorizações já concedidas até a realização da consulta.

De acordo com o MPF, o Idema/RN concedeu licença ambiental prévia para o projeto da adutora em setembro de 2024; em março de 2025, a ANA emitiu a outorga de direito de uso de recursos hídricos. A liberação dos dois órgãos aconteceu sem a realização da CPLI, o que viola a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.

O MPF reconhece a importância da adutora para garantir maior abastecimento de água à população potiguar. “Justamente por sua grande magnitude, é uma obra que deve obedecer rigorosamente aos trâmites legais e processuais, de modo a assegurar que, uma vez implementada, atinja seus objetivos sem causar impactos negativos adicionais”, defende o procurador da República Camões Boaventura. Ele explica que “a execução apressada do projeto, especialmente em áreas ocupadas por populações tradicionais e indígenas, apresenta riscos significativos, incluindo impactos ambientais, sociais e culturais que podem comprometer a efetividade do projeto”.

A recomendação também pede que Idema/RN e ANA realizem levantamento das comunidades tradicionais potencialmente afetadas pelo projeto, com o auxílio da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), da Fundação Cultural Palmares, do Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT) e de outros órgãos públicos e da sociedade civil.

Estudo da Universidade Federal do RN indica que a bacia do Rio Guaju é estratégica para a segurança hídrica do estado e, ao mesmo tempo, tem essencial relevância ecológica e sociocultural para a zona costeira. Os rios impactados pela adutora são fonte de subsistência para populações tradicionais, como os indígenas Potiguara tanto em Sagi (aldeias Trabanda e Jacu), no município de Baía Formosa, como também em Canguaretama (Eletérios do Catu).

O MPF destaca que a CPLI deve contemplar todas as comunidades tradicionais que utilizam os cursos d’água afetados, mesmo que fora da área mínima de proteção, de 3 km do traçado da adutora. O processo de licenciamento ambiental atual – sem realizar qualquer consulta – considerou apenas comunidades situadas dentro desse raio.

Consulta – A realização de consulta prévia, livre e informada (CPLI) às comunidades tradicionais sobre intervenções em seus territórios está prevista na Convenção nº 169 da OIT sobre povos indígenas e tribais. Os princípios que estabelecem esse direito visam garantir a legitimidade e a efetividade das ações governamentais, considerando o impacto das decisões na vida dessas populações.

Para Camões Boaventura, no projeto da Adutora do Agreste Potiguar, “a consulta é de fundamental importância para que os órgãos autorizadores, no presente caso ANA e Idema, disponham do máximo de informações possíveis, especialmente das comunidades tradicionais diretamente impactadas, de modo a subsidiar a melhor tomada de decisão e permitir que medidas preventivas ou, se for o caso, compensatórias sejam mais eficazes”, afirmou.

Obras da Adutora do Agreste vão começar em agosto

Ao final de dois dias de reuniões com técnicos do Governo do Rio Grande do Norte, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) anunciou para agosto deste ano o início das obras físicas da Adutora do Agreste Potiguar, um empreendimento de R$ 468 milhões, cuja ordem para início dos serviços foi assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 19 de março, mesmo dia em que inaugurou a Barragem Oiticica, o segundo maior reservatório de água do RN.

São 177 quilômetros de ramais da adutora, que ampliará o fornecimento de água para mais de 170 mil habitantes em 35 municípios do Agreste, entre eles, Canguaretama, Nova Cruz e Santa Cruz. A captação será no Rio Guaju, na divisa do RN com a Paraíba. Na reunião também foi discutido o andamento das obras da Adutora Seridó Norte, que vai levar água da barragem Armando Ribeiro Gonçalves para Currais Novos e cidades vizinhas.

A Codevasf previu para dezembro deste ano, a conclusão adutora Seridó Norte, que tem 184 quilômetros e custo de R$ 300 milhões. De Acordo com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), atualmente está em execução um trecho de 113 km. A captação da água é na barragem Armando Ribeiro Gonçalves, que após tratada, será transportada para os municípios de Florânia, Cruzeta, São Vicente e Currais Novos. O sistema pode atender também Acari com interligação ao sistema adutor já existente.

Localizada na mesorregião Central, o Seridó é a região com maior vulnerabilidade hídrica do Rio Grande do Norte. É também a de maior densidade populacional em se tratando de região semiárida do Brasil. São 223 mil habitantes em 17 municípios. Os principais reservatórios públicos da região, construídos no século passado, têm capacidade para 280 milhões de metros cúbicos. Atualmente acumulam 61,8 milhões.

A reunião, que também contou com a participação de representantes e técnicos da CAERN, do Instituto de Águas (IGARN) e das empresas encarregadas das obras das duas adutoras, a Codevasf foi representada pelo diretor de Infraestrutura, Henrique Bernardes.