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DNOCS

1981: o ano que não terminou em Santa Cruz

“Uma tragédia contada por quem resistiu às águas do Trairi”

Para toda uma geração, a data de 1º de abril de 1981 ficou marcada para sempre em Santa Cruz. Aquela cidade, com pouco mais de 13 mil habitantes, era notável por sua história, mas ainda preservava um ambiente em que “todos conheciam todos”, bem diferente da cidade atual, repleta de novos rostos a cada dia. Era um tempo pacato, chuvoso entre janeiro e março. A rotina seguia com boas conversas nas calçadas e uma novidade importante: a instalação do Campus de Caiçarinha, da Universidade, naquele mesmo ano de 1981.

Um ônibus saía da cidade até o Campus, todas as tardes e noites dos dias letivos, e atravessava uma estrada que foi ampliada para garantir o melhor acesso até o Núcleo de Ensino Superior do Trairi. A estrada carroçável atravessava o riacho da Caiçarinha, no setor ao norte da cidade e é conhecido pelo seu alto volume em tempo chuvoso, sendo uma via de ligação para comunidades que estão mais próximas do município de Sítio Novo. Até pouco tempo atrás era possível ver algumas paredes do que foi o Campus de Caiçarinha, hoje resta apenas um pouco das suas fundações.

No dia 1º de abril teve uma manhã quente e ensolarada, mas, por volta das 15h, o “tempo começou a fechar”. Algumas pessoas comentavam como tudo mudou de repente, pediram então aos professores para saírem mais cedo com receio de pegar a estrada com muita chuva ou o riacho mais cheio. Por volta das 16h, já sob chuva fina e com aparência de fim de tarde, os alunos voltaram para casa. Parecia que a noite já tinha chegado, como se já tivesse passado das 18h.

A 26 km dali, em Campo Redondo, por volta das 15h30, o Açude Mãe D’Água recebia um volume de água muito acima da sua capacidade. Pequenos açudes transbordaram ou romperam, direcionando a força das águas para açude daquela cidade, que não suportou e rompeu no final da tarde, com uma lâmina acima de um metro e meio. Foram cinco milhões de metros cúbicos jogados no Rio Trairi.

No meio de tudo isso, a aluna do curso de Licenciatura em Letras, Língua Portuguesa, Lúcia de Fátima, era uma entre muitos na iminência do desastre. As últimas semanas chuvosas não eram alerta para ela, mas o açude sempre foi um fantasma para a população em geral. “Sempre se falou que o açude poderia estourar, mas ninguém imaginava isso acontecendo”.

Quando mais jovem, por volta de 1976, brincava assustando os seus primos sobre uma possível enchente. “Cuidado, porque de noite vocês podem acordar com a rede embaixo d’água”. Os primos ficavam preocupados, e muitas vezes à noite acordavam assustados em noites de chuva e tocavam o chão com medo da água. Pouco mais de quatro anos depois, as águas do Trairi realmente invadiriam o quarto que dormiam.

Ao retornar da faculdade, Lúcia ajudou sua tia a retirar a água acumulada na casa. Na Avenida Rio Branco, ainda não existiam as atuais galerias. Havia muitas craibeiras, e o riacho tinha o escoamento precário. A chuva o fazia subir rapidamente. Naquele dia, o riacho aumentou o seu volume pela chuva que caía. A água voltava pelos ralos.

Joana Darc, a tia de Lúcia, tentava retirar a água, sugeriu parar e jantar cedo. “Eu fiz sopa”, disse sua tia, que recomendou retornar ao trabalho depois. Após a sopa, por volta das 18h10, a tranquilidade chegava ao fim.

Enquanto organizavam a casa para o início da noite que se aproximava, outra escuridão também estava bem ali, que ecoava na voz do Padre Raimundo, pároco da cidade. Lúcia foi até a calçada para ouvir melhor, pois o barulho da chuva atrapalhava. Quando chegou lá fora, ouviu o lamento da sua vizinha, Margarida, que logo transmitiu o recado do sacerdote: “O Açude de Campo Redondo estourou, corram para lugares altos. O nosso açude não vai aguentar”.

A casa onde moravam, com paredes espessas e estrutura antiga, parecia segura, tinha estilo bem antigo, com 10 metros de altura até a cumieira. Ali dentro, Lúcia avisou a todos. O tio Joaquim não sabia o que dizer, sua prima Rejane entrou em choque, sua avó Maria já apresentava sinais da velhice, em negação mandou não acreditarem naquilo. Joana não deixou essa negação prevalecer, e insistiu para que todos saíssem dali.

A família conta que a casa foi uma das primeiras da rua, nos primeiros anos de 1900, e um parente comentou que caso o açude rompesse aquela casa seria atingida. O fantasma do açude existia, quase ninguém acreditava que de fato fosse acontecer. Na casa de Lúcia todos pensavam assim, até aquele momento. O relógio marcava 18h30.

A rua Eloy de Souza encheu-se de pessoas e veículos tentando escapar. Eram roupas e objetos pessoais em fugas até um lugar seguro. Iniciava uma corrida para se salvar, quais os lugares mais altos? A Igreja Matriz, no alto de uma colina da margem esquerda do Rio Trairi, era refúgio certo, mas o restante do centro, em áreas baixas, seria logo inundado. O relógio corria junto com as águas.

No início daquela noite, mais do que o dobro da capacidade do açude estava sendo represada por uma parede cheia de algarobas e formigueiros. Deteriorado, o maciço rompeu em duas partes e jogou 12 milhões de metros cúbicos de água por dezenas de ruas de uma vez. A escuridão da noite era banhada com as águas, que seguiram seus caminhos, no bom e velho ditado popular: “água não tem cabelo”.

As ruas começaram a inundar, Lúcia correu cerca de 180 metros até a Câmara Municipal, que funcionava na Praça Coronel Ezequiel Mergelino, onde durante muito tempo foi a biblioteca pública. Lá, encontrou o presidente da casa, Geraldo de Tico, e pediu abrigo. Além de funcionária da Câmara Municipal, Lúcia seria sua moradora por mais cinco meses, junto com seus familiares. Naquele dia era a sessão plenária, mas foi cancelada em virtude da emergência que a cidade passava.

Quando descia aquela rua, um carro tocava:

“Hoje eu tive um sonho que foi o mais bonito
Que eu sonhei em toda a minha vida
Sonhei que todo mundo vivia preocupado
Tentando encontrar uma saída
Quando em minha porta alguém tocou
Sem que ela se abrisse ele entrou
E era algo tão divino, luz em forma de menino
Que uma canção me ensinou”

A música em questão era “Guerra dos Meninos”, de Roberto Carlos, do álbum de 1980. Ao ouvi-la, Lúcia sentiu algo ruim, e verbalizou para o condutor do veículo, que nada entendeu a reclamação dela. O sonho que ela vivia naquele momento era um pesadelo.

Desceu a rua, voltou para casa, encontrou o riacho da Rio Branco com um volume ainda maior, e a calçada de sua casa já tinha água. Combinou com a sua vizinha Margarida que iriam para o abrigo, a Câmara. Com alguns pertences e roupas, a vizinha seguiu com três crianças, pois o seu marido estava trabalhando e não estava na cidade.

Os familiares de Lúcia já estavam com todos os objetos reunidos, prontos para sair. Ela retornou para a praça de táxi, distante cerca 160 metros, no mesmo lugar atual. Não encontrou nenhum e voltou, já encontrando uma rua quase vazia, pois em questão de minutos todos fugiram para locais seguros.

Quando chegou na porta de casa percebeu que o nível da água continuava subindo, e encontrou um fusca amarelo, com o seu cunhado, Toinho, que levou todos para a Câmara Municipal. Já abrigados, perceberam que haviam esquecido o remédio de Dona Maria, ou como chamavam a matriarca da família, Dona Mariinha. Voltaram à casa, Lúcia e seu cunhado, uma chuvinha fina ainda caía, quando estava prestes a abrir a porta, as luzes da cidade se apagaram. O Rio Trairi tinha levado as torres de energia elétrica.

Recorte do jornal da época

Santa Cruz deixou todo o Rio Grande do Norte às escuras, isso porque a cidade era a “chave geral” da energia do estado, quando era a ligação até Paulo Afonso/BA das redes de energia. Era a escuridão total, não apenas a luz elétrica, mas o sufoco para sobreviver naquela catástrofe. Toinho posicionou o carro e os faróis daquele fusca iluminavam parte do interior da casa, os ponteiros do relógio marcavam 19 horas.

Lúcia sabia de olhos fechados onde estava o remédio. Seus olhos estavam bem abertos, porém tudo estava escuro naquela noite de lua minguante. Um remédio da caixa rosa, Iskemil, que estava sobre um armário azul na cozinha. Toinho logo viu uma radiola e dezenas de discos de vinil, que ela nem fez questão de levar, mas ele colocou tudo no carro e seguiu viagem, na contramão, pois naquela hora a regra era fugir das águas.

Do outro lado do rio, o bairro do Paraíso era varrido pelas águas, como outras ruas no entorno do Riacho do Pecado, e partes mais baixas da cidade. A colina da Igreja Matriz era uma ilha, o Padre Raimundo acolhia os desabrigados, muitos em preces naquela vigília de uma longa noite sem fim. A cidade estava escura e o único som ali era o da água; cidade e rio eram um só. O Trairi tomou para si quase metade do centro da cidade, junto com tantos sonhos e suor de trabalho. Uma tragédia anunciada, mas nunca levada a sério.

Outras três famílias chegaram na Câmara Municipal, casais, crianças, cachorros, gatos e até papagaio ficaram naquela noite ali. A delegacia também se instalou no prédio, ficando no primeiro cômodo. Lúcia acomodou sua família, se encontraram com Geisa, que morava ao lado da Câmara, e procuraram tomar um chá de erva doce para acalmarem os ânimos. Geisa disse: “vão-se os anéis e ficam os dedos. Estamos todos vivos, isso é o que importa”. Ela chegou a dizer tempos depois a Joana, que foi um bom período aqueles cinco meses de convivência dela e sua família.

O esposo de Margarida chegou na Câmara, cidade pequena, todos informaram a localização dela. Depois foi olhar as águas, voltou e disse a Lúcia: “As águas cobriram o janelão da sua casa”. Passava das 20h, a marca do nível da água era de 2,30 metros na casa dela. O que poderia ter sobrado? Ela lembrou dos seus dois gatos que ficaram em casa, um era amarelo e outro preto e branco. O nome do gato amarelo era peculiar, seu nome era Pororoca. Parecia este relato um combo de ironias, mas o nome do felino é derivado do Tupi, que designa “estrondo”, e é conhecido como fenômeno natural onde acontece o encontro das águas de um rio com o oceano, especialmente nas mudanças de fase da lua, e aquele período era transição da minguante para nova.

Quando as badaladas do relógio anunciavam que eram 22h, Lúcia, Joaquim e Rejane desceram a Eloy de Souza, os faróis dos carros jogavam luz nas casas e naquele “grande rio” formado ali. O nível da água era de 1,5 metro, as águas retrocediam, o Rio Trairi voltava para o seu lugar. Próximo da casa de Iaponira, não era possível avançar mais, pois os pés ficavam presos naquela nova rua destruída pelas águas e tomada pela lama.

A enchente foi como uma “pororoca urbana”. As águas do rio encontram um oceano de casas e pessoas, levando tudo em seu caminho e deixando um rastro de choro. Lúcia foi dormir por volta das 23h, teve dificuldade para dormir, por várias vezes ouviu pessoas passando pela rua com os seus lamentos e prantos.

No dia seguinte, Margarida e sua família mudou-se para o Conjunto Aluízio Bezerra, que tinha sido construído perto do açude, porém do lado alto, no final da Rua Caminha Fiúza. O conjunto não foi atingido pela enchente, pois fica do outro lado do açude, no caminho contrário ao curso do rio. As outras famílias que estavam na Câmara procuraram se abrigar ou ocupar lugares que lhe garantissem acesso aos direitos deles. Muitos foram se inscrever para ganhar novas moradias.

Às 4h, Joaquim voltou à casa, agora coberta de lama e reboco nas pareces. Lúcia chegou às 5h. A construção antiga resistiu: paredes espessas, erguidas com zelo por Joaquim Loureço de Carvalho, patriarca de uma grande família de Sítio Novo. Essa casa resiste há mais de um século, com as mesmas paredes sobreviventes de uma enchente.

Rua Eloy de Souza, dia seguinte após a enchente

Alguns quadros foram embora, outros móveis foram recuperados, objetos foram limpos, e o que mais chamou atenção: A imagem do Sagrado Coração de Jesus permaneceu na parede, não foi levado pelas águas. Símbolo da fé da família, tornou-se troféu de resistência. As pessoas diziam para ela sair da casa, pois muitas já haviam desabado naquela manhã. Ela negou! “Eu não vou sair daqui até tirar tudo. E aquela imagem [Sagrado Coração] será a última a sair da casa”.

Após cinco meses, a casa foi restaurada e voltou a abrigar Mariinha, Joana, Rejane, Joaquim e Lúcia. Mas as marcas da enchente jamais se apagaram. Todo dia 1º de abril, Lúcia conta com detalhes como foi aquele dia. As chuvas de 2024 fizeram Lúcia lembrar do fantasma da enchente, com medo que os açudes rompam novamente.

Lúcia carrega na memória a visão de uma rua cinzenta e cheia de lama. O som da casa próxima da sua desabando, ou ainda a Camilo José da Rocha, em que as casas não tinham mais paredes, só era possível diferenciar cada uma pelo piso, pois as águas levaram tudo. Em certo momento, o rio Trairi virou um depósito de botijões de gás, sofás e vários móveis. Tudo desaguou longe.

Dias depois seria a Semana Santa, momento que a cidade passava pela sua “via crucis”. Em maio, a Festa de Santa Rita foi bem simples, sem muitas comemorações, e a procissão foi de muita emoção, pelo período calamitoso. Por onde a imagem de Santa Rita passava, ouviam-se preces de dias melhores e muitas lágrimas. A enchente e a pandemia de covid foram momentos em que a procissão de Santa Rita foi uma grande corrente de oração e esperança, com o pedido da intercessão da padroeira.

A enchente de 1981 precisa ser contada todos os anos, e seria fácil contá-la a partir do ângulo político ou da Igreja. A reconstrução da cidade passou pelas mãos de várias Lúcias, Marias, Joanas, Joaquins e tantos que trabalharam incansavelmente para recuperar sua vida e sua cidade. Muitos outros anônimos fizeram parte, não são as comendas que contam as histórias, cada experiência particular conta um pedaço do que foi 1981.

Edição do Diário de Natal, em 1981

É preciso manter os açudes em condições dignas, não ocupar áreas inundáveis, manter o alerta em período chuvoso. Em 1981, uma telefonista Fátima, lá de Campo Redondo, salvou esta cidade de Santa Cruz. Hoje, será que as redes sociais nos salvariam ou nos levariam ao caos?

1981 nunca acabou. Vive na memória de quem enfrentou aquele dia, é uma lição contada para a minha geração. Uma cidade que foi destruída pelas águas e reconstruída pelo trabalho e pela fé de um povo.

Santa Cruz existe. Santa Cruz resiste!

Foto: Canindé Soares

Açude Trairi, de Tangará, volta a sangrar após 13 anos

Foto: Drone Tangará

A terra do pastel, Tangará, festeja nesta quinta-feira (11) a sangria do Açude Trairi, que faz o barramento do Rio de mesmo nome. A última vez que o reservatório transbordou foi janeiro de 2011.

O Açude Trairi chegou a secar totalmente durante a estiagem recente.

Agora, o povo tangaraense festeja a sangria do seu açude, que possui oficialmente 35 milhões de metros cúbicos.

Foto: Drone Tangará

Audiência pública discute construção de barragem na região do Alto Oeste

O IDEMA realizará Audiência Pública para apresentação e discussão de viabilidade ambiental para a Construção da Barragem Poço de Varas, com bacia hidráulica de 253,52 hectares, localizada no município de Coronel João Pessoa.

A sessão pública será realizada na terça-feira (22), às 14h, no Auditório do Centro Cultural Micaelense, na Rua Hesíquio Fernandes, s/n, no Centro do município de São Miguel.

A barragem irá beneficiar aproximadamente 50.000 pessoas através do abastecimento de água, pequena irrigação, piscicultura e lazer, resgatando parte da alta demanda em recursos hídricos existentes na região do projeto.

A obra é de interesse do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, DNOCS. O evento tem por finalidade expor aos interessados o conteúdo do estudo ambiental, dirimindo dúvidas e recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a respeito do referido estudo, conforme Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama nº 01/86 e 09/87.

Mais informações e o regulamento do evento estão disponíveis no site do Instituto, em idema.rn.gov.br.

Comporta do Açude do Alívio apresenta problemas

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Nas redes sociais, vários vídeos mostram um problema na parede do Açude Inharé, conhecido como Açude do Alívio. A comporta existente na parede do reservatório não está vedada completamente e muita água tem saído por esse canal.

Fotos e vídeos nas redes sociais mostram o problema claramente, dificultando o armazenamento dessa água no maior açude do município.

A administração e manutenção do reservatório são de responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, o DNOCS. O blog entrou em contato com o departamento, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

MPF consegue decisão que obriga Dnocs a assumir provisoriamente a manutenção das comportas do Rio Ceará-Mirim

O Ministério Público Federal (MPF) obteve uma decisão judicial determinando que o Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) assuma provisoriamente a responsabilidade pela manutenção das comportas do Rio Ceará-Mirim, como forma de não se desperdiçar a recuperação já efetuada nesses equipamentos, bem como evitar danos ao meio ambientes e aos ribeirinhos.

Pela decisão, essa responsabilidade caberá ao departamento pelo menos até o trânsito em julgado da ação civil pública movida pelo MPF contra o Dnocs e a União. O objetivo maior da ACP é a recuperação dos danos ambientais produzidos pela má conservação e funcionamento dessas comportas.

Uma vistoria do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema/RN) apontou a existência de 24 delas, abaixo da ponte da “BR-101 Norte”, na comunidade de Estivas, município de Extremoz, vizinho à capital potiguar. Nas estruturas, “oxidadas e deterioradas”, há grande presença de plantas aquáticas (aguapés) que atrapalham o fluxo d’água.

Abandono – Instaladas na década de 60, pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), as comportas integravam um sistema que previa, ainda, a construção de canais com o objetivo de regularizar a drenagem do baixo vale do Rio Ceará-Mirim. O projeto, contudo, foi abandonado, resultando em problemas ambientais tais como “alagamento de terras produtivas, apodrecimento da vegetação e, por consequência, criação de ambiente anóxico (com redução ou ausência de oxigênio) propício à extinção de vida selvagem e à formação de gás metano gerador do efeito estufa”.

As comportas foram fabricadas em ferro fundido e seu peso muitas vezes não permite que sejam abertas com a força das águas, o que causa alagamentos na região. Esse problema prejudica ainda a qualidade da água do rio para consumo humano, uma vez que o funcionamento irregular permite o avanço das águas salgadas da maré, causando também prejuízos às lavouras.

As comportas deveriam se abrir nas marés baixas, impedindo inundações, e fechar na maré alta, evitando que a água salgada do mar avance sobre o rio. Danificadas, as comportas localizadas na comunidade de Estivas vinham funcionando como simples represa.

Decisão – O Dnocs já havia alegado que, mesmo tendo realizado uma manutenção pontual das comportas, não possui “condições, interesse ou disponibilidade de incorporar o material ao seu patrimônio”. O juiz federal Janilson Bezerra, contudo, determinou que o órgão deverá se responsabilizar até o trânsito em julgado da ação “ante a ausência de consenso entre as partes quanto à propriedade do equipamento e quanto à sua manutenção, bem como em face do risco de dano pela falta de manutenção do equipamento”.

A Ação Civil Pública tramita na Justiça Federal sob o número 0800677-11.2018.4.05.8400.

Assembleia Legislativa vai debater manutenção de barragens na próxima segunda-feira

Diante das tragédias recentes envolvendo barragens do Brasil e pensando nos riscos da falta de manutenção das construções públicas no Rio Grande do Norte, o deputado Kelps Lima (Solidariedade) propôs audiência pública com o tema “O estado de conservação das barragens do RN”, que acontecerá nesta segunda-feira (11), às 9h, no auditório deputado Cortez Pereira, na sede do Legislativo Potiguar.

A audiência irá tratar de um projeto de lei apresentado pelo parlamentar no final de 2018, por sugestão do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), obrigando o poder público a fazer manutenção em prédios, obras e barragens.

“Quando acontecem tragédias como as de Mariana e Brumadinho, que levam vidas, é que a gente lembra a necessidade de se fazer manutenção”, alertou Kelps Lima. Para o deputado, dados mostram que dos acidentes registrados em obras e prédios públicos, 66% ocorrem por falta de manutenção.

“O Rio Grande do Norte tem cinco reservatórios hídricos que apresentam risco de desabamento”, disse Kelps, reportando-se ao relatório de 2017 da Agência Nacional de Águas (ANA), depois de analisar 515 barragens e açudes do RN. “O estudo aponta que os reservatórios potiguares que mais preocupam são de Barbosa de Baixo em Caicó, Riacho do Meio em Equador, Passagem das Traíras em Jardim do Seridó, Marechal Dutra (Gargalheiras), em Acari, e Calabouço em Passa e Fica”, afirmou o deputado.

Obra do Dnocs atinge adutora que abastece Jucurutu e cidade está temporariamente sem abastecimento

Uma obra no sistema de drenagem de águas pluviais realizada em Jucurutu pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), atingiu a adutora da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) que abastece a cidade. Trata-se de uma adutora de Caicó que tem derivação para a Jucurutu, às margens do rio Piranhas.

A intervenção para reparo é de grande complexidade técnica e vai demandar pelo menos 72 horas para ser finalizada pela construtora que trabalha na obra, tendo em vista que será necessário esvaziar toda a água da adutora para, somente então, iniciar o reparo. Além disso, o material é de difícil aquisição, portanto, o trabalho poderá se estender por mais tempo. A população deve redobrar o racionamento com a água que possui disponível em seus reservatórios, até que a situação se restabeleça.

Da Assessoria

No DNOCS, Walter Alves pede agilidade na reabertura de balneários do Itans

O deputado federal Walter Alves (MDB) participou, na manhã de hoje (26), de uma reunião com representantes dos balneários localizados às margens do açude Itans, em Caicó. Durante o encontro realizado na sede do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), em Natal, o parlamentar pediu agilidade no processo de regularização dos balneários.

Em janeiro passado, a Justiça Federal autorizou a reabertura dos balneários Pelicano, Caicó Iate Clube, Colônia de Pescadores, Clube Caminhoneiro, ASDEC e APUC. Mas para que o processo seja finalizado, é preciso que haja a regularização das entidades que representam os balneários. Ainda cabe recurso da decisão por parte do Ministério Público Federal.

Durante a reunião de hoje, o deputado federal Walter Alves solicitou à direção do DNOCS agilidade no processo. “Os balneários do açude Itans têm papel fundamental na economia de Caicó, pois geram emprego e renda para o município”, afirma Walter Alves.

MPF quer bloqueio de contas do Dnocs para custear abastecimento de Currais Novos e Acari

O Ministério Público Federal (MPF) apresentou um pedido urgente, à Justiça Federal, para que bloqueie das contas do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) a quantia necessária para garantir o abastecimento d’água nos municípios de Currais Novos e Acari, localizados na região Seridó do Rio Grande do Norte.

O único reservatório de Currais Novos, o açude Dourados, entrou em colapso e a adutora emergencial sob responsabilidade do Dnocs, e que deveria estar funcionando plenamente desde fevereiro, ainda apresenta problemas e não vem garantindo o abastecimento nesses locais. O valor a ser bloqueado será utilizado para inclusão dos dois municípios na Operação Vertente 2 (que faz uso de caminhões-pipa e é coordenada pelo Gabinete Civil do Governo Estado).

Colapso – As informações sobre a situação do açude Dourados foram repassados à procuradora da República Maria Clara Lucena, que vem acompanhando o caso, em reuniões realizadas nessa quarta-feira (27) com a diretora regional da Companhia de Águas (Caern), Rosy Gurgel, e com o prefeito de Currais, Odon Oliveira de Souza Junior. Eles acrescentaram o fato de que a adutora emergencial de responsabilidade do Dnocs apresenta vários vazamentos.

Devido a esses problemas estruturais, as águas da adutora não estariam chegando a Currais Novos e vêm abastecendo “de maneira muito irregular” Acari, cujo principal reservatório – o açude Gargalheiras – também já entrou em colapso. O prefeito desta cidade, Isaías de Medeiros Cabral, explicou que desde agosto o município depende exclusivamente da adutora e, embora a previsão fosse de chegar água dois dias por semana, a regularidade não tem sido essa. O motivo, de acordo com a Caern, também seriam os problemas no sistema adutor.

Já as informações da Prefeitura de Currais Novos dão conta de que o município foi abastecido pela adutora uma única vez e, ainda assim, com água imprópria para consumo humano, “por conter muita ferrugem, possivelmente decorrente da má conservação/qualidade da tubulação empregada”.

Desabastecimento – A representante do MPF lembra que, se antes o abastecimento hídrico de Currais Novos e Acari era caótico, agora tornou-se inexistente. “É indiscutível a relação de causa e efeito entre a não entrega definitiva da adutora pelo Dnocs e esse cenário de total desabastecimento”, ressalta Maria Clara Lucena.

Para a procuradora da República, “está-se diante de uma situação limite, em que cada dia de atraso na entrega do empreendimento – aqui se reporta a um empreendimento de fato operacional, que não exija a corriqueira interrupção no abastecimento por causa de vazamentos – acarreta transtornos incalculáveis na vida de milhares de famílias que, sem água, veem-se privadas do mínimo existencial, malferindo a dignidade da pessoa humana”.

As informações obtidas indicam que os reparos necessários na adutora emergencial ainda podem demorar, exigindo a substituição de tubulações e deixando a população local sem opção. Diante disso, o MPF requereu o bloqueio dos recursos, já que a aplicação de multas não tem surtido efeito.

A obra da adutora emergencial estava sob responsabilidade do Governo do Estado e foi repassada, pelo Ministério da Integração Nacional, para a alçada do Dnocs, em 2016. A ação do MPF que trata do assunto tramita na Justiça Federal sob o nº 0800300-68.2017.4.05.8402.