Mais da metade da água distribuída para as residências e estabelecimentos comerciais situados em Natal se perde ao longo do caminho entre a estação de distribuição e a torneira. O índice de perdas é de 56,2% – o terceiro maior entre as capitais nordestinas -, conforme o Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto 2019 divulgado nesta terça-feira (15) pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). Esse percentual está muito acima da média nacional, que é de 39,2% no mesmo ano analisado. Em todo o Estado do Rio Grande do Norte, o índice de perdas na distribuição chega a 51,2% – o segundo mais alto do Nordeste, atrás somente do Maranhão (59,5%), acima da média regional (45,7% e nacional (39,2%).
Sobre o assunto, a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) enviou nota à TRIBUNA DO NORTE esclarecendo que “após um período prolongado de estiagem e com a retomada do abastecimento em diversas cidades, a partir de 2019, o índice de perdas subiu em decorrência, principalmente, de vazamentos em redes que estavam sem utilização. Nesta perda também se somam os desvios de água e também a baixa medição de hidrômetros já defasados. Estas ocorrências estão sendo corrigidas pela Caern”.
A A Companhia afirma ter tomado outras medidas para melhorar esse cenário. “Os resultados serão mais efetivos a partir de 2021, devido à suspensão de algumas ações durante o período mais crítico da pandemia, uma vez que os cortes e fiscalizações estiveram suspensos”, garante. Ademais, “no último bimestre, a Caern retomou as ações de fiscalização, evitando os famosos gatos, ou seja, os desvios de água. Além disso, os cortes foram retomados. A Caern trabalha também para a contratação de uma empresa, na modalidade contrato de performance, para a redução de perdas na zona Norte de Natal. A perspectiva é que esse projeto seja expandido para outras áreas do Estado. Assim, a Companhia espera reduzir este índice”.
Caracterizadas como ineficiências técnicas no Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto 2019, as perdas são inerentes a qualquer sistema de abastecimento de água. “É um tema de alta relevância frente a cenários de escassez hídrica e de altos custos de energia elétrica, além da sua relação direta com a saúde financeira dos prestadores de serviços, uma vez que podem representar desperdício de recursos naturais, operacionais e de receita. Dessa forma, os custos decorrentes das perdas devem ser minimizados e estar sujeitos a gerenciamento apropriado, pois são repassados ao consumidor final”, aponta o estudo.
Extravasamentos
Ao longo do ano passado, Natal registrou 8.762 extravasamentos de esgotos, com duração de 490.656 horas, configurando como um dos maiores do país. Sobre esse tópico, a Caern afirma que “o lançamento de lixo, óleos, gorduras e a canalização de água de chuva na rede de esgoto são verdadeiros vilões do sistema de esgotamento sanitário”, pois o “Sistema de Esgotamento Sanitário não é projetado para esse uso indevido, sendo destinado apenas para as águas residuárias do dia a dia, tais como, os dejetos do vaso sanitário, da pia da cozinha, a água que escorre pelos ralos do chuveiro, das pias e demais ralos espalhados pelas casas”. Conforme a Companhia, cerca de 90% das ocorrências na rede de esgoto da capital são provocadas por mau uso da própria população.
“Mesmo com um alto número de ocorrências é importante destacar que a Caern manteve uma eficiência de resolução das demandas em 93% executadas dentro do prazo regulado pela Agência Reguladora de Saneamento Básico de Natal (Arsban)”, declara a Caern. Atualmente, a cobertura de esgotamento na capital é de aproximadamente 50%. Até 2022, essa cobertura chegará a 100%. “Por este motivo a Caern já tem desenvolvido diversas ações de educação ambiental para conscientizar a população sobre o uso correto do sistema e gerar uma melhor convivência”, ressalta.
Perdas
Veja abaixo o índice de perdas na distribuição de água no NE
Capitais
Aracaju 30,5%
João Pessoa 32,4%
Fortaleza R$ 47,4%
Maceió R$ 51,2%
Teresina 51,7%
Salvador 56,1%
Natal 56,2%
Recife 57,9%
São Luíz R$ 63,8%
Brasil 39,2%
Estados
Alagoas 29,8%
Paraíba 38,8%
Bahia 40,2%
Ceará 43%
Sergipe 43,6%
Piauí 48,4%
Pernambuco 50,1%
Rio Grande do Norte 51,2%
Maranhão 59,5%
Brasil 39,2%
Abastecimento de água cresce
O Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto (SNIS-AE) reuniu dados de 5.191 municípios brasileiros, que contam com 174,8 milhões de habitantes (97,1% da população do País). Essas cidades, ao fim de 2019, tinham 680,4 mil quilômetros de redes de água, um acréscimo de 17,8 mil quilômetros (ou 2,7%) em relação aos 662,6 mil quilômetros apurados em 2018.
As ligações às redes de abastecimento de água cresceram de 57,2 milhões, em 2018, para 59,1 milhões (3,3% a mais) no ano passado. Com esse aumento, a população atendida alcançou 170,8 milhões de pessoas, o que corresponde a 83,7% do total do País. A Região Sul apresentou o maior índice de cobertura, com 98,7%, seguida pelo Centro-Oeste (97,6%), Sudeste (95,9%), Nordeste (88,2%) e Norte (70,4%).
Já o consumo médio de água no País registrou queda. Em 2019, foi de 153,9 litros ao dia por habitante – uma redução de 0,6% em comparação a 2018. Os consumos variam regionalmente de 120,6 litros diários por habitante na Região Nordeste a 177,4 litros na Região Sudeste.
Reportagem do Jornal Tribuna do Norte