Publicado pela revista Nature and Science of Sleep, da editora científica britânica DovePress, o artigo “Nightmares in People with COVID-19: Did Coronavirus Infect Our Dreams?” (“Pesadelos em pessoas com COVID-19: o Coronavírus infectou nossos sonhos?”) é resultado do trabalho de 22 cientistas vinculados a 26 instituições em 13 países. O estudo investigou especificamente os sonhos de pacientes com COVID-19, por meio da aplicação de questionários. O Brasil – único país da América Latina a integrar a pesquisa – é representado pela UFRN através do Departamento de Psicologia, com a estudante de iniciação científica Tainá Macedo, e do Instituto do Cérebro, com o pós-doutorando Sérgio Arthuro.
“Vários artigos já mostraram que tanto o sono como os sonhos se alteraram na pandemia. Com relação ao sono, houve piora na qualidade, aumento de despertares, insônia etc.. Com relação aos sonhos, vários trabalhos encontraram um aumento na lembrança dos sonhos. Encontrou-se também aumento de sonhos relacionados a estresse e ansiedade, que podem ter a ver ou não com a pandemia, direta ou indiretamente. No entanto, todos esses trabalhos são relacionados com a pandemia. E não especificamente com as pessoas que pegaram COVID”, explica Sérgio,um dos autores do artigo e responsável pela coleta de dados no Brasil.
O trabalho foi o primeiro a observar um aumento significativo de pesadelos especificamente nas pessoas infectadas pelo COVID, quando comparadas aquelas que não foram contaminadas. “Também identificamos que os sintomas de ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) foram maiores nos participantes com COVID-19 do que nos controles; e que os escores de qualidade de vida, saúde, e bem-estar foram significativamente maiores nos controles do que os participantes com COVID-19. Dessa forma, podemos concluir que nosso trabalho mostra que houve um aumento de pesadelos naqueles que relataram ter tido COVID-19. Isso sugere que quanto mais as pessoas foram afetadas pelo COVID-19, maior o impacto na atividade dos sonhos e na qualidade de vida”, conclui Sérgio.