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Cássia Penha

Conselho de Saúde de Santa Cruz se reúne e discute mortes no Hospital Municipal

Uma reunião do Conselho Municipal de Saúde de Santa Cruz discutiu as mortes ocorridas no Hospital Municipal Aluízio Bezerra, a diretora clínica da unidade, Dra. Ellenn Salviano, e a secretária de saúde, Cássia Penha, e demais integrantes da saúde pública local e regional participaram do encontro, que foi híbrido (presencial e online).

Mais informações foram repassadas aos integrantes do conselho, titulares e suplentes, além da população, pois as reuniões são abertas. A diretora clínica, Dra. Ellenn Salviano, e a secretária de saúde, Cássia Penha, confirmaram a abertura de uma sindicância para apurar os fatos ocorridos naquela quinta-feira, 28 de julho de 2022. A Dra. Ellen explicou que o Hospital “se manteve em silêncio por respeito aos familiares, e para não atrapalhar qualquer processo de investigação”.

As explicações da médica e diretora clínica foram as mais importantes nesta reunião, pois trouxeram informações novas e praticamente o primeiro desenho de uma linha do tempo do que aconteceu no Hospital Municipal. O blog acompanhou toda a reunião e apresenta alguns dados importantes:

SALA DE ESTABILIZAÇÃO

De acordo com a Dra. Ellenn, a sala onde Seu Manoel e Hanna Letícia foram atendidos conta com três pontos de oxigênio fixo, que foi utilizada como suporte durante a pandemia da Covid-19, passando por adaptação. Esses três pontos de oxigênio são ligados a usina de gases da unidade. Além dos pontos de oxigênio, a sala têm dois respiradores, monitores e todos os kits necessários para atendimento. A sala comporta até três pacientes graves, e no momento do fato ocorrido Hanna foi a quarta paciente a necessitar de atendimento naquele local.

Um dos pacientes aguardava a chegada do SAMU para transferência, pois ele tinha “infartado”. Hanna Letícia ficou entre este paciente que aguardava transferência e Seu Manoel, que se recuperava de uma pneumonia grave, de acordo com informações do Hospital.

HANNA LETÍCIA

Durante as explicações da diretora clínica, ela apresentou o quadro de Hanna Letícia, de 27 anos, que veio a óbito na mesma tarde que o Sr. Manoel, de 86 anos. Hanna apresentava dor epigástrica e foi atendida na unidade, foi consultado se ela tinha alergia, e segundo relatos do atendimento, ela disse não ter alergia a dipirona injetável. O técnico de enfermagem iniciou a aplicação e ela começou a informar que não estava se sentindo bem e tinha dor no braço. O técnico retirou o acesso e chamou o médico, que antes de chegar até a paciente, ela teve mal súbito. Dessa maneira, ela foi encaminhada para a sala de estabilização. Tentaram a reanimação por 40 minutos, mas não conseguiram.

RETIRADA DO OXIGÊNIO

“Ninguém assumiu a responsabilidade da retirada do oxigênio do Sr. Manoel, quem vai apontar isto são os familiares e acompanhantes dele”, foi assim que a Dra. Ellenn explicou a situação, que para ela, foi uma das mais graves no atendimento na tarde da quinta-feira, 28 de julho. O Sr. Manoel “não estava entubado, estava de máscara reinalante, e não retiraram a máscara”. De acordo com os relatos, foi retirada apenas a conexão com a fonte do oxigênio. Acreditam que o idoso ficou dois minutos sem o suporte de oxigênio, e não utilizaram o “oxigênio de retaguarda”.

De acordo com a diretora, esse oxigênio fica na própria sala de estabilização, e não deveriam ter retirado o oxigênio do Sr. Manoel, pois os cilindros de retaguarda seriam para uma situação grave, como de um quarto paciente na sala, que foi o caso da jovem Hanna Letícia.

A diretora não teve a oportunidade de conversar com calma com os familiares do Sr. Manoel, mas disse que as informações sobre esse procedimento com o idoso só será descoberto na investigação.

CAUSAS DOS ÓBITOS

Com a sindicância que será aberta pela Secretaria de Saúde, com uma portaria ou algum ato publicado pela Prefeitura Municipal, no diário oficial, será formada a equipe que irá integrar as investigações. Essa sindicância vai conversar com funcionários do hospital, profissionais da saúde, técnicos, familiares das vítimas e outras testemunhas. Serão adicionados ainda neste processo todos os documentos que fazem parte do processo e rotina daquele atendimento, assim como laudos técnicos, principalmente do SVO. Para atuar diretamente no caso, o assessor jurídico da Saúde Municipal, Dr. Thiago Fonseca, assume os trabalhos para acompanhar a sindicância.

RESPONSABILIDADE

“Não vou passar a mão na cabeça de ninguém. Já conversamos com a equipe, e neste momento não temos objetivo e culpar ninguém. Se erramos [Prefeitura] vamos assumir o nosso erro. Precisamos apurar, e vamos apurar. Aí vamos dar uma resposta a família e Hanna e de Seu Manoel, elas merecem isso”, disse Dra. Ellenn, que ainda falou sobre a forma como as pessoas estão tratando os profissionais de saúde. “O que não queremos é que a população ache que nós que fazemos parte do corpo técnico do Hospital somos negligente”, complementou. A diretora acredita que não teve questões estruturais da unidade que tenham provocado alguma dificuldade no atendimento. Para ela, não foi escassez de recursos, mas que só saberão de fato quando concluir a sindicância.

“Vamos responder à sociedade de uma forma correta e mais transparente possível. Enquanto gestão hospitalar não tenho intenção de passar a mão na cabeça de ninguém”, finalizou.

MELHORAR A SAÚDE

A população também participou e opinou sobre o sistema municipal de Saúde, que até pela avaliação da Secretaria e Hospital precisam de aperfeiçoamento. Para a maioria, corrigir falhas na triagem do atendimento do HMAB é o primeiro passo. “Antes eram 100 atendimentos por dia, agora são 200 por dia”, explicou a diretora clínica sobre a demanda que o sistema está atendendo nessa fase pós-pandemia.

Promover pactuações regionais e buscar apoio com o Governo do Estado também foram propostas para ajudar o sistema municipal, principalmente para alta complexidade. “Santa Cruz fica com uma sobrecarga grande sem nenhum financiamento dos municípios da região”, foi destacado isso durante a reunião.