Cigarros eletrônicos: FACISA/UFRN adapta pesquisa que investiga dependência
O tabagismo, que causa dependência em nicotina, é um problema de saúde pública global, sendo reconhecido como uma condição crônica inserida na Classificação Internacional de Doenças (CID). Nos últimos anos, um novo produto vem crescendo em popularidade: o cigarro eletrônico (e-cig), também chamado de vape, que muitos pensam ser menos perigoso. Porém, o produto traz riscos parecidos aos cigarros convencionais, principalmente quando o assunto é vício. Melhorar esse quadro no Rio Grande do Norte é o objetivo de um projeto de pesquisa da Faculdade de Ciências de Saúde do Trairi (Facisa/UFRN).
O projeto Tradução, adaptação transcultural e análise psicométrica do Penn State Electronic Cigarette Dependence Index traduziu para o português um documento produzido pela Universidade Estadual da Pensilvânia, nos EUA, que avaliou níveis de dependência em cigarros eletrônicos. A equipe agora busca adaptar melhor os resultados para o idioma brasileiro.
O projeto é desenvolvido pelas professoras Catharinne Farias e Lucien Gualdi, da Facisa, e pelo docente Rêncio Bento, antes professor temporário da Facisa que agora está na Universidade Federal de Goiás (UFG).
A pesquisa teve a permissão do autor do documento, Jonathan Foulds, professor da universidade norte-americana. O processo será feito em algumas etapas. Inicialmente, o instrumento foi traduzido para o português e depois sintetizado, ou seja, os pesquisadores discutiram as versões produzidas e resumiram os conteúdos encontrados. Posteriormente, houve uma tradução reversa: os profissionais traduziram as versões dos pesquisadores brasileiros para o inglês. O documento foi então encaminhado de volta para Jonathan Foulds, que aprovou a versão da Facisa.
A próxima fase é adaptar a tradução para a linguagem brasileira. Para isso, foi formada uma equipe com fisioterapeutas, médicos pneumologistas, profissionais em traduzir e adaptar questionários, um especialista em linguística e uma pessoa usuária de e-cigs. Nessa etapa, a pesquisa vai analisar se os termos utilizados no documento condizem com a linguagem do Brasil.
O objetivo do projeto, segundo a professora Catharinne Farias, é trazer para o Brasil um instrumento capaz de averiguar o grau de dependência do e-cig. A pesquisadora ressalta que o método tem o custo baixo e é de simples aplicação e interpretação, podendo ser um grande aliado a profissionais de saúde da linha de frente. Por meio da avaliação da dependência, poderão ser criadas estratégias eficazes para o combate ao tabagismo eletrônico.
Os vapes no RN
Um estudo da Facisa ainda em fase de publicação verificou que cerca de 70% dos usuários potiguares de vapes também usam o cigarro convencional e 94% consomem bebidas alcoólicas frequentemente. Mais de 60% utilizam e-cigs com altos teores de nicotina. Além disso, cerca de 90% têm entre 18 e 29 anos e a maioria tem renda de até três salários mínimos. Os dados surpreendem Catharinne, que destaca que os produtos não são baratos.
“O tabagismo eletrônico é tão maléfico ou mais maléfico que o cigarro convencional”, afirma a professora. Catharinne alerta que o uso de cigarros não faz mal apenas para o fumante ativo, mas também para as pessoas ao redor que inalam a fumaça expelida. “Nessa fumaça, vão inúmeras substâncias, tanto no cigarro convencional quanto no cigarro eletrônico, que têm uma forte relação com o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis”, explica.
Além do câncer de pulmão, consequência conhecida do tabagismo, a prática também pode causar cânceres na boca, na garganta, no pâncreas, na próstata e na bexiga. Doenças cardiovasculares e respiratórias também podem ser ocasionadas pelo fumo.
Esses efeitos, segundo Catharinne, são observados mais cedo em usuários de vapes que em fumantes convencionais. Doenças que geralmente aparecem na quarta, quinta e sexta décadas de vida de um usuário de cigarro tradicional estão ocorrendo em fumantes de e-cigs mais jovens.
“Se o tabagismo eletrônico aumentar, o que vai acontecer é que nós vamos ter, num futuro muito próximo, pessoas com doenças relacionadas ao tabaco já adoecidas com 30 anos de idade, com 40 anos de idade”, afirma a pesquisadora.