Em 2019, o prefeito Ivanildinho me convidava para fazer parte de uma comissão de historiadores, pesquisadores e comunicadores, que deveriam apontar dados precisos sobre a data da emancipação política de Santa Cruz. Isso porque, alguma coisa aconteceu nos anos 1980 e a cidade começou a comemorar a data de emancipação na data errada.
A lei de autoria do executivo municipal, e aprovada na Presidência de Fábio Dias, com unanimidade de todos os edis daquela legislatura, ainda em 2019, foi importante para esta correção. E ainda faço a sugestão da retirada da data de 1914 do brasão do município, para não restar dúvidas, além desta última não ter relevância histórica.
Já notei que algumas pessoas não valorizam muito essa correção histórica, mas é importante analisar o seguinte: Você gostaria de comemorar a sua data de aniversário em outro dia que não fosse a oficial?
A data de fundação de uma cidade nem sempre é muito precisa, pois existem vários marcos para designação do surgimento dela. Santa Cruz, por exemplo, existem dados que comprovam sua existência por volta de 1801, mas aquela mais aceitável é o relato do Monsenhor Severino Bezerra, com o indicativo de 1825, provável data da construção da primeira capela de Santa Rita de Cássia. A presença dos templos católicos é um fator importante como marco de fundação e surgimento das cidades, que inicialmente são povoados.
A emancipação é um ato político, que torna aquele território independente e autônomo. Sendo assim, Santa Cruz conquistou a sua independência em 11 de dezembro de 1876, após aprovação de uma lei, na Assembleia Provincial, com uma lei de iniciativa do Coronel Ivo Abdias Furtado de Mendonça e Menezes. Numa das minhas pesquisas sobre a genealogia das figuras mais antigas da cidade, verifiquei que o “Patrono da Emancipação” era descendente do José Rodrigues da Silva, um daqueles que assinaram o pedido de criação da freguesia de Santa Rita (Criação da Paróquia), em 1835, considerado um dos fundadores da cidade.
Os fatos comprovam a data da emancipação em 11 de dezembro, e em 1976, o Prefeito José Rodrigues da Rocha comemorou o 1º centenário da emancipação, inclusive existe um dobrado chamado 11 de dezembro. Em algum momento, alguém sem qualquer senso de pesquisar ou estudar um pouco nossa história, reformulou para a data de 30 de novembro.
O que existe de fato em 30 de novembro? O pouco pesquisado é que o Governo do Estado teria publicado um decreto mudando o nome do município oficialmente. Para os registros estaduais, precisamente na emancipação, todo o território que se desmembrou de São José de Mipibu se chamava Vila do Trairi, com sede aqui, e todos chamavam essa localizade de “terra da Santa Cruz” desde os primórdios. E assim ficou, ninguém chamava Vila do Trairi, e novas pesquisas que realizei comprovam isto que escrevo.
A Câmara Municipal de Santa Cruz, que reunia os poderes executivo e legislativo na Monarquia e nos primeiros anos da República, aprovou a mudança do nome do município de Vila do Trairi para Santa Cruz, isso em 1891, conforme atesta também o Monsenhor Severino Bezerra. Dessa forma, não existe data de aniversário ou outra data comemorativa em 30 de novembro de 1914. O decreto nesta última data foi apenas um ato político dos correligionários do Governador da época, Ferreira Chaves, que confirmou o nome de Santa Cruz, já antes aprovado pelo município.
Não existe nada a se comemorar em 30 de novembro, nunca houve. Antes do erro na comemoração da data, não existem registros de “exaltação” do 30 de novembro. Quem ainda se apega a essa contradição brega é porque precisa estudar um pouco mais, contextualizar os fatos e comparar com marcos históricos semelhantes, comparando também com outros municípios. Bem próximo de Santa Cruz, temo Serra Caiada, que algum dia inventaram de chamar de Presidente Juscelino, mas o povo sempre teve a referência com o seu nome popular, a cidade da pedra caiada, a Serra Caiada.
Parabéns, Santa Cruz! São 147 anos de sua emancipação, criação do município. Terra de grande devoção a Santa Rita de Cássia, e uma das cidades que sempre e refência por onde passamos. Tenho muito orgulho da minha terra, e onde chego faço questão de falar sobre ela, contar a sua história e exaltá-la.
Viva, a terra da Santa Cruz!